(Foto: Reprodução) Economistas avaliam impactos de eventual sobretaxação do aço brasileiro pelo governo dos Estados Unidos Principais compradores do aço produzido na RMP são Peru, Bolívia e Países Baixos - Crédito: Divulgação
A possível sobretaxação de 25% das importações de aço nos Estados Unidos, anunciada pelo presidente Donald Trump, tem gerado preocupação na indústria global, e especialistas analisam os impactos dessa medida tanto para a economia americana quanto para o Brasil. A economista Cristiane Feltre, professora e pesquisadora do Observatório da Região Metropolitana de Piracicaba, destaca que o aço é insubstituível em diversos setores, como a indústria automotiva e a construção civil, além de ser essencial para a infraestrutura energética e de exploração de petróleo e gás. Ela ressalta que a medida pode encarecer custos de produção nos Estados Unidos, impactando vários segmentos e aumentando o custo de vida da população.
Segundo a economista, o Brasil está entre os principais fornecedores de aço para os Estados Unidos, ao lado de Canadá, México, Coreia do Sul e Japão.
“No entanto, na Região Metropolitana de Piracicaba, apenas 5% do aço exportado tem como destino os EUA. Os principais compradores do aço produzido na região são Peru, Bolívia e Países Baixos, o que reduz um impacto direto na economia local, ainda que o Brasil como um todo possa sentir os efeitos da sobretaxação”, pontua.
A economista faz uma ressalva: “A ArcelorMittal, uma das maiores produtoras de aço do mundo e com usina em Piracicaba, não tem seus dados de produção contabilizados em razão de seu domicílio fiscal não estar no município”.
Erick Gomes sugere medidas de retaliação, como taxar a exportação de minério de ferro para os EUA – Crédito: Divulgação
O economista Carlos Eduardo de Freitas Vian, professor da Esalq/USP, reforça a análise ao destacar que a China domina a produção global de aço, com mais de 50% do total produzido no mundo, seguida pela Índia, com 8%. Esses países também têm as maiores empresas do mundo. Ele explica que, embora os EUA importem aço chinês, a maior parte vem de países como o Canadá e o Brasil, que exportam aço semiacabado.
“A imposição de tarifas protecionistas pode favorecer a indústria siderúrgica americana, mas, ao mesmo tempo, elevar custos para diversos setores consumidores de aço, como a indústria de peças, a indústria automotiva e a construção civil”, diz.
Para o Brasil, a sobretaxação poderia dificultar a competitividade das exportações de aço para os EUA e pressionar a indústria siderúrgica nacional a buscar novos mercados. O economista alerta para a necessidade de monitorar os desdobramentos da política comercial americana e seus reflexos na economia brasileira.
"Tudo é muito recente ainda e podem ocorrer reviravoltas como no primeiro governo Trump, em que houve negociação de cotas”, finaliza.
AJUSTES NA PRODUÇÃO
Na avaliação do presidente do Simespi (sindicato patronal das indústrias do setor metalmecânico de Piracicaba, Saltinho e Rio das Pedras) a sobretaxação imposta pelos Estados Unidos ao aço importado não é uma medida direcionada ao Brasil, mas ao mercado global, refletindo a baixa competitividade da indústria siderúrgica americana.
“Como consequência, os preços do aço nos EUA devem subir, afetando setores como o automotivo e de equipamentos. Já os países exportadores, incluindo o Brasil, podem enfrentar queda na demanda e necessidade de ajuste na produção”, explica.
Ele afirma que, no Brasil, a resposta das usinas será o desligamento de fornos para controlar a oferta e evitar a desvalorização do aço no mercado interno.
“No entanto, a reativação desses equipamentos é demorada, podendo gerar instabilidade nos preços. Além disso, a economia brasileira já enfrenta desafios como juros elevados e baixa demanda por investimentos, o que agrava o cenário para a indústria”, justifica.
Erick Gomes também sugere que o Brasil poderia adotar medidas de retaliação, como taxar a exportação de minério de ferro para os EUA, reduzindo sua capacidade produtiva de aço.